sábado, 9 de março de 2013

POEMA

Mordi o pó das planícies nuas,
Cortei a carne por humildade;
E não bastou ter-Te crucificado,
Porque quiseste que eu nascesse humano.

Calquei as flores com os pés e com orgulho,
Jorrei poemas, ladainhas, astros;
E não bastou ter-Te crucificado.

Matei e feri, curei e fui curado,
Mil vezes me sangrei e Te sangrei,
E não bastou ter-Te crucificado:
Ainda quis coroar-Te rei de espinhos,
Rei de sangue e suor, e flagelado.

E olha para a Tua obra magna,
Tu, que quiseste que eu nascesse humano:

Não Te bastou ter-Te crucificado.

João Aguiar, 1972

Pontiado a aparo com tinta da china sobre papel A3

Sem comentários:

Enviar um comentário