segunda-feira, 20 de junho de 2011

OS QUE O CONHECIAM, DISSERAM... (Lisboa)

João Aguiar, o meu testemunho e memória.

por Jorge Salgueiro a quinta-feira, 3 de Junho de 2010 às 13:01
  


















Conheci João Aguiar a propósito da minha primeira sinfonia inspirada no seu primeiro romance “A Voz dos Deuses”. Estávamos em 1992. A partir de então tornámo-nos amigos, falávamos com frequência e iniciámos uma colaboração artística que durou até hoje.
Quando em 1998 lhe pedi para escrever o poema para a canção final da fábula sinfónica “A Quinta da Amizade”, a sua reacção foi de surpresa pois nunca tinha feito textos para canções. Mas aceitou o desafio e fez o poema da “Canção da Amizade”, um dos trechos mais conhecidos na área do ensino da música às crianças. No ano seguinte escreveu dois poemas para “A Floresta d’Água”.

O João escrevia a ouvir música, a maior parte das vezes ópera. Era um melómano e conhecia os libretos como poucos. Adorava Wagner. Quando me telefonaram do Gabinete Coordenador de Educação Artística da Madeira encomendando uma ópera comemorativa dos 500 anos da Cidade do Funchal, não pude deixar de pensar de imediato no seu nome para escrever o libreto. Escreveu “A Orquídea Branca” um libreto maravilhoso que apaixonou todos aqueles que puderam assistir ao espectáculo.

Em 2009/2010 voltei a trabalhar com o João. Tal como para os poemas, a Foco Musical encomendou ao João o argumento para um bailado. Por telefone ou na sua casa, trabalhámos no argumento para o bailado “A Menina de Pedra”. Talvez tenha sido a sua última obra completa. Foi estreado no dia 10 de Março deste ano mas o João já não pôde assistir.

Fica-me a memória de um Homem nobre, culto, apaixonado pelo trabalho, pela arte e pela História. De trato afável, verdadeiro, um monarca de vanguarda.

Jorge Salgueiro, 3 de Junho de 2010


Vida e obra: 
João Aguiar nasceu em Lisboa em 1943. Após ter frequentado os dois primeiros anos do curso de Filosofia da Universidade Clássica de Lisboa, licenciou-se em jornalismo pela Universidade Livre de Bruxelas e trabalhou nos centros de turismo de Portugal em Bruxelas e Amesterdão. Em 1976 regressou a Lisboa trabalhando na rádio, na imprensa escrita e em televisão. Trabalhou para a RTP (onde tinha iniciado a carreira em 1963) e para diversos diários e semanários como: Diário de Notícias, A Luta, Diário Popular, O País e Sábado. Em 1981, foi nomeado assessor de imprensa do então Ministro da Qualidade de Vida. Colaborou regularmente na revista mensal Superinteressante, sendo membro do seu Conselho Consultivo. João Aguiar faleceu a 3 de Junho de 2010, em Lisboa, vítima de cancro. Iniciou a sua carreira literária com quarenta anos e o seu primeiro romance foi A Voz dos Deuses (1984), um dos livros mais vendidos em Portugal nos últimos anos. Tem escrito, sobretudo, romances históricos. Na sua vasta obra contam-se também vários guiões para programas de televisão, argumentos cinematográficos e colaborações na área da música.

Literatura:
A Voz dos Deuses (1984), O Homem sem Nome (1986), O Trono do Altíssimo (1988), Os Comedores de Pérolas (1992), A Hora do Sertório (1994), A Encomendação das Almas (1995), Navegador Solitário (1996), Inês de Portugal (1997), O Dragão de Fumo (1998), A Catedral Verde (2000), Diálogo das Compensadas (2001), Uma Deusa na Bruma (2003), O Sétimo Herói (2004), O Jardim das Delícias (2005), O Tigre Sentado (2005), Lapedo – Uma Criança no Vale (2006), O Priorado do Cifrão (2008).

Televisão:
A Marquesa de Vila Rica (Guião e diálogos), 1990 RTP;
Os Melhores Anos I e II (Guião e diálogos), 1990 RTP;
Rua Sésamo (Coordenação) RTP;
O Rosto da Europa (Texto, diálogos e co-autoria) 1994 RTP.

Cinema:
Inês de Portugal (Diálogos e co-autoria), 1997.

Colecções infanto-juvenis:
O Bando dos Quatro;
Sebastião e os Mundos Secretos.

Para música de Jorge Salgueiro:
A Quinta da Amizade (poema para canção, 1998);
A Floresta d’Água (2 poemas para canções, 1999);
A Orquídea Branca (libreto para ópera, 2008);
A Menina de Pedra (argumento para bailado, 2010).

ópera ORQUIDEA BRANCA, foto de Helder Santos na noite de estreia no Teatro Baltazar Dias (Funchal) 28/10/2008. João Aguiar ao centro (de gravata).

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